Solidão Acompanhada

Solidão Acompanhada                                                                          

Marta Elini dos Santos Borges*
* Diretora e responsável técnica - CCNS, Mestre em Saúde da Família, Especialista em Psicologia Clínica, Hospitalar e Hipnose Clínica, Atuação por 28 anos como Psicóloga no serviço de Nefrologia e Transplante Renal do Hospital Federal de Bonsucesso.
 

“Saudade é solidão acompanhada, é quando o amor ainda não foi embora, mas o amado já…” (Pablo Neruda)
 

A solidão é uma experiência dolorosa que atinge pessoas de todas as idades, raças, níveis sociais e religiões. É um estado de vazio interior, insatisfação e tédio. É um quadro que fragiliza e produz amargura e tristeza. Pouco a pouco ele faz com que a pessoa chegue à conclusão que não pode alcançar seus a concretização de seus projetos. É um fenômeno psicológico que pode vir acompanhado de inquietação, desânimo, ansiedade, sensação de isolamento, e ao contrário do que se pensa, o sentimento de solidão não está relacionado com viver sozinho.
 

Há muitas pessoas acompanhadas e sofrendo de um grande vazio interior.
 

Sentimentos de solidão desencadeados por eventos específicos tais como perdas afetivas importantes, doenças, perdas materiais ou aposentadoria, podem ser considerados normais, quando passageiros. Viver constantemente com a presença desse sentimento caracteriza o estabelecimento de um processo patológico.
 

O sentimento crônico de solidão se desenvolve como resultado de pobreza afetiva, em geral com origem em um ambiente familiar carente de diálogo respeitoso e pouca expressão de afeto. Nesse tipo de contexto, a pessoa não tem oportunidade de expressar ideias, crenças, valores, sentimentos e não se sente amada. Muitas vezes os animais de estimação são eleitos para preencher vazios relacionais, ajudando a contornar os sentimentos de isolamento ou solidão.
 

A pessoa solitária pode vivenciar um processo de bloqueio de expressão verbal, de conhecimento, podendo haver alterações no organismo, produzindo doenças.
 

As decadências afetivas, comportamentais, sociais e de bem estar físico avançarão irremediavelmente se não houver uma intervenção. O fato dos avanços dos danos serem graduais atrapalha a percepção da pessoa, que não tem consciência de seu declínio e, como tal, resiste a aceitar ajuda e repete: “Estou bem assim…”, não percebendo o quanto pode estar ou vir a ficar doente.
 

Tanto a solidão pode causar depressão, quanto a depressão pode levar ao sentimento de solidão. Seja como for, o sofrimento sempre é intenso tornando a vida limitada e “sem cor”.
 

A ajuda profissional pode contribuir para a identificação e intervenção nesse processo, visando o ressurgimento de sentimentos positivos.