Quem Conta um Conto, Aumenta um ponto: a distorção de informações como fator interveniente no processode transplante renal

QUEM CONTA UM CONTO, AUMENTA UM PONTO: A DISTORÇÃO DE INFORMAÇÕES COMO FATOR INTERVENIENTE NO PROCESSO DE TRANSPLANTE RENAL

Marta Elini dos Santos Borges*
* Diretora e responsável técnica - CCNS, Mestre em Saúde da Família, Especialista em Psicologia Clínica, Hospitalar e Hipnose Clínica, Atuação por 28 anos como Psicóloga no serviço de Nefrologia e Transplante Renal do Hospital Federal de Bonsucesso.

"Uma mudança de linguagem pode alterar nossa visão de universo".  (Benjamin Lee Whort)

INTRODUÇÃO:

O Serviço de Nefrologia do Hospital Federal de Bonsucesso tem ao longo de seu percurso no cenário dos transplantes renais, valorizado a interdisciplinaridade,tendo a Psicologia como parte integrante da equipe desde 1987. A partir dos atendimentos psicológicos realizados nesse serviço, pode ser percebido que umconsiderável número de pacientes e doadores demonstravam sintomas e sinais de ansiedade e angústia em relação ao transplante renal e que ao ser solicitadauma explicação no que diz respeito a isso, as respostas em geral traziam um conteúdo fantasioso.  Tal fato trouxe a idéia de que poderiam estar essessentimentos relacionados a um processo de comunicação distorcido. Este estudo se deu a partir da observação e estudo de uma situação de 10 grupos depacientes e candidatos a doadores renais no período pré-transplante. Foi baseado nos conceitos da Programação Neurolinguística (PNL) acerca dos processos deassimilação de informações. No que se referea esse conceito, cabe sinalizar que "A PNL é o estudo da estrutura da experiência subjetiva do ser humano e o quepode ser feito com ela... todo comportamento tem uma estrutura e esta pode ser descoberta, modelada e mudada (reprogramada)... é uma ferramenta educacional,não uma forma de terapia..." (BANDLER, R., GRINDER, J., 1982).Antes das técnicas de neurolingüística serem sistematizadas, elas já eram utilizadas de forma intuitiva.O cérebro cuida de milhares de funções do corpo a cada momento, e pode lidar com imensas quantidades de informações. Ele pode fazer todas essascoisas ao mesmo tempo sem qualquer necessidade de controle consciente. O inconsciente responde a cada estímulo externo e a cada pensamento. Cadaresposta põe em movimento uma reação química que é enviada para o resto do corpo. A PNL tem técnicas e estratégias para ajudar-nos a nos tornarmostotalmente congruentes.    Congruência é quando se alinha mente e comportamento por trás dos pensamentos positivos e assim temos um comprometimento totalpara alcançar o resultado. Segundo Anthony Robbins: "É nos seus momentos de decisão que o seu destino é moldado". Uma boa maneira de experimentarcongruência é utilizar as experiências positivas do passado e incorporá-las no comportamento presente. O resultado é uma maneira nova e poderosa de pensar. Aexperiência que resultou nesse trabalho, se deu no ano de 2013, em um hospital público da cidade do Rio de Janeiro, no atendimento de 10 grupos, constituídospor futuros receptores de transplante renal e seus respectivos candidatos a doadores, no período médio de 2 meses antes da cirurgia. 


METODOLOGIA: 

A metodologia utilizada nesse trabalho foi de natureza qualitativa, realizada através da técnica de dinâmica de grupo “telefone sem fio” e revisão bibliográfica. A população alvo foi constituída por 10 grupos de pacientes e candidatos a doadores renais no Hospital Federal de Bonsucesso, de ambos os sexos, com idade entre 18 e 57 anos, com nível de escolaridade fundamental e médio, residentes em diversos municípios do estado do Rio de Janeiro.


RELATO DA EXPERIÊNCIA: 

Após estabelecido o rapport, iniciamos a técnica do “telefone sem fio”. Uma mensagem foi lida pelo facilitador para um dos membros do grupo (em segredo) , que deveria (também em segredo) passá-la para outro membro do grupo e assim, a mensagem seria repassada (sempre em segredo) para todos do grupo. Mensagem inicial:“ O rato preto comeu o queijo branco do homem que usava camisa escura.” (igual para todos os grupos).


RESULTADO: 

Após o término de cada“corrente de comunicação”, a última mensagem foi colocada publicamente e pode-se então trabalhar a questão da distorção das informações, relacionando com vivências anteriores ligadas à situação de doença/tratamento/cirurgia.  Ao final de cada grupo, observamos que a última mensagem verbalizada (nesse momento de forma pública), trazia um acentuado grau de distorção, como se pode ver através da transcrição das mensagens finais: 
GRUPO 1 - “A camisa do homem era preta.”
GRUPO 2 - “O gato comeu o rato na casa do homem de camisa branca.”
GRUPO 3 - “A camisa do homem foi comida pelo rato.”
GRUPO 4 - “O homem branco comeu queijo.”
GRUPO 5 - “O homem tá no hospital de camisa.”
GRUPO 6 - “A blusa amarela tá furada pelo rato.”
GRUPO 7 - “Queijo prato o rato come.”
GRUPO 8 - “A camisa preta do homem ta na boca do gato.”
GRUPO 9 - “O gato é do homem escuro.”
GRUPO 10 -“O homem preto comeu o queijo na padaria.”

Pode-se então sugerir que fosse estabelecido um metamodelo, onde cada um pudesse buscar através de indagações pertinentes a seus questionamentos, no sentido de atingir um nível de tranquilidade satisfatório, em consequencia de uma busca consciente.


DISCUSSÃO:

Pudemos através da experiência que esse trabalho nos proporcionou, perceber a necessidade de incentivo, no sentido de que os participantes dos grupos possam perceber a necessidade de mudança de crenças e convicções limitantes, assim como também um aperfeiçoamento de estratégias de definição de objetivos e aumento da flexibilidade de comportamento para atingí-los. Foi sugerido o aperfeiçoamento da linguagem na comunicação e na representação de informações.  Quando uma mensagem tiver que percorrer muitos elos de uma cadeia de comunicação, a probabilidade de ocorrerem distorções é muito alta. Seja pelo subjetivismo que faz com que as pessoas tendam a valoriza aspectos diferentes de uma mesma informação, seja pelo famoso princípio de “que conta um conto, aumenta um ponto”. Assim, qualquer que seja o canal utilizadpara a transmissão de uma mensagem, vale checar se o que foi recebido confercom a intenção original, fazendo com que dessa forma a mensagem seja a mais próxima da real, evitando processos prejudiciais para o bem estar físico e mental dos indivíduos Podemos nesse momento, a partir da experiência realizada nesse trabalho, pensar na possibilidade de novos propostas de inserção de técnicas da PNL objetivando uma melhor qualidade de vida para os pacientes renais, transplantados e seus familiares, assim como expandir essa visão para um âmbito hospitalar mais abrangente.


CONSIDERAÇÕES FINAIS:

A PNL surgiu e está amadurecendo num momento de mudanças. Estamos no limiar de um novo paradigma comportamental.  Muita coisa nova e empírica em nossas idéias e ações. A complexidade, a variedade e o ritmo das mudanças de hoje não tem precedente. Ao nosso redor muitas formas estão alteradas, desde os modernos meios de produção e a alta tecnologia que nos mantém em constante movimento às inovações no relacionamento e na comunicação intra e interpessoal.  A nova onda da sociedade produtiva nos ensina a fazer mais e melhor com menos esforço; o que implica também, uma melhoria na Qualidade de Vida, uma exigência por pessoas melhores e realizadoras. Estas mudanças ocorrem muito rápido, o que significa que fica cada vez mais difícil solucionar e realizar os novos padrões de qualidade. 
A PNL, se apresenta neste contexto, como um meio para nos colocar num ponto mais elevado, de onde possamos ter uma visão e controle amplo do conjunto, pois o que se perdeu, basicamente, foi a visão e a perspectiva. Perdeu-se o propósito de vida e os objetivos a longo prazo em meio à poluição de informações. Com esta perda, temos hoje, fragmentos de homens, confusos e amedrontados. Mais do que nunca é necessário que se despertem os recursos e potenciais adormecidos. Que se despertem os poderes de comunicação e de liderança da própria vida buscando uma unidade sadia entre mente, corpo e espírito. 
As técnicas da PNL proporcionam a congruência e o alimento dos recursos internos da pessoa com seu propósito de vida, melhoram e potencializam a comunicação e as relações humanas; proporcionam ainda, lições e estratégias mentais valiosas.  Se bem aplicada a PNL no dia a dia, aumenta a confiança e a segurança, além de ser um excelente auxiliar na conquista do progresso pessoal e profissional. Todo conhecimento e experiências adquiridas, com o uso de técnicas da PNL, podem ser organizadas e exteriorizadas para gerar novas mudanças e recursos. 
Pudemos através da experiência que esse trabalho nos proporcionou, perceber, de forma qualitativa, que houve um incentivo para que os participantes dos grupos pudessem perceber a necessidade de mudança de crenças e convições limitantes, assim como também um aperfeiçoamento de estratégias de definição de objetivos e aumento da flexibilidade de comportamento para atingí-los. Foi sugerido o aperfeiçoamento da linguagem na comunicação e na representação de informações.  Quando uma mensagem tiver que percorrer muitos elos de uma cadeia de comunicação, a probabilidade de ocorrerem distorções é muito alta. Seja pelo subjetivismo que faz com que as pessoas tendam a valorizar
aspectos diferentes de uma mesma informação, seja pelo famoso princípio de “quemconta um conto, aumenta um ponto”. Assim, qualquer que seja o canal utilizadopara a transmissão de uma mensagem, vale checar se o que foi recebido conferecom a intenção original, fazendo com que dessa forma a mensagem seja a mais próxima da real, evitando processos prejudiciais para o bem estar físico e mental dos indivíduos.
Podemos nesse momento, a partir da experiência realizada nesse trabalho, pensar na possibilidade de novos propostas de inserção de técnicas da PNL objetivando uma melhor qualidade de vida para os pacientes renais, transplantados e seus familiares, assim como expandir essa visão para um âmbito hospitalar mais abrangente.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BANDLER, Richard e GRINDER, John. Sapos em príncipes: programação neurolingüística. São Paulo: Summus Editorial, 1982.
BANDLER, Richard. Usando sua mente. São Paulo: Summus Editorial, 1987.
BÄR, F. L.. Informação e Comunicação Organizacional numa Empresa de Energia Elétrica. Dissertação de Mestrado. Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo, SP, 1995.
EPELMAN, D, Dilts, - Mude sua Vida com PNL! São Paulo, 2001.
O'CONNOR, J.; SEYMOUR,J. - Introdução à Programação Neurolingüística. São Paulo, Summus, 1995.
O’CONNOR, J.- Manual de programação neurolingüística - PNL: um guia prático para alcançar os resultados que você quer. Rio de Janeiro, Qualitymark, 2003.
 SPRITZER, N.- Curso Practtitioner em PNL. Centro Sulbrasileiro de PNL, Porto Alegre, 1989.